Fernanda Toigo
Imagem: luoman/Getty Images
A carne bovina brasileira pode ficar mais competitiva para o mercado externo e possivelmente mais barata para o consumidor interno caso a nova tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, anunciada por Donald Trump na quarta-feira (9), entre em vigor, em 1º de agosto. No entanto, especialistas ouvidos pela Forbes reforçam que, por enquanto, o cenário ainda é incerto.
“Antes mesmo da tarifa, as exportações para os EUA já vinham acontecendo em um ritmo menor. Claro, que agora, o setor sentiu mais, mas devemos lembrar que o nosso grande player é a China e que, com tempo, haverá um equilíbrio entre compradores e vendedores do mercado internacional”, disse Thiago Bernardino, pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Esalq/USP (Cepea). A China foi o principal destino da carne bovina brasileira em 2024, com 1,33 milhão de toneladas exportadas, gerando um faturamento de US$ 6 bilhões, segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec).
Em 2024, os Estados Unidos, segundo maior comprador da proteína brasileira, compraram 229,8 mil toneladas de carne do Brasil, uma alta de 65,7% em relação a 2023, somando US$ 1,35 bilhão. No acumulado de janeiro a abril de 2025, o país importou 135,8 mil toneladas, um avanço de 161,2% em relação ao mesmo período do ano passado. Entre maio e junho, no entanto, os embarques começaram a perder fôlego e o setor sentiu um esfriamento nas vendas.
“O anúncio foi um balde de água fria. Pensando a longo prazo, em um cenário com menos exportações, o setor perde incentivo à produção”, afirma Alcides Torres, engenheiro agrônomo e fundador e CEO da Scot Consultoria, especializada em pesquisa voltada para a pecuária e o agronegócio.
Para Lygia Pimentel, economista e consultora para o mercado de commodities, e CEO da AgriFatto, empresa de consultoria estratégica para o agronegócio, os EUA são um mercado relevante para o Brasil e a interrupção de compras de carne bovina vai impactar o setor. “Realocar essa demanda no mercado doméstico pode gerar um excedente interno. E enviar para outro mercado externo também vai causar algum tipo de negociação, que faz o preço cair. Então, no curtíssimo prazo, certamente haverá um prejuízo”, afirma.
Lygia aponta para um cenário em que a carne bovina brasileira ficará ainda mais competitiva. “Sem o Brasil, os EUA provavelmente vão importar do Paraguai, Uruguai, Argentina e Austrália, que possuem preços um pouco mais altos que o nosso, o que já nos torna competitivos. A demanda adicional dos EUA pode incrementar o preço da carne nesses países, enquanto os do Brasil seguirão baixos”, disse Lygia. Se essa tendência se confirmar, isso abrirá portas para novos mercados. “Se o preço for bom, a China e outros parceiros podem comprar mais, e novos mercados, a longo prazo, podem surgir”, afirma Thiago.
Efeitos no mercado interno
Com a possibilidade de uma nova tarifa, os frigoríficos aproveitam esse momento. Segundo Torres, haverá uma pressão sobre a cotação do boi gordo, hoje a R$ 299,70 por arroba (15 kg), segundo indicador do Cepea. “Isso é bom para o frigorífico porque os EUA é uma fatia das nossas exportações. Se cai a arroba do boi gordo, a margem do exportador melhora e os frigoríficos saem na vantagem, enquanto os pecuaristas, não”, afirma ele. “Os EUA tendem a aumentar a importação de carne aproveitando a ausência de tarifas, o que pode pelo menos ajudar a sustentar a cotação do boi gordo no patamar atual.”
Torres completa que, se a cotação do boi gordo de fato cair, a carne bovina poderá ficar mais barata para o mercado interno. Mas essa não é uma regra. “Se o consumo de carne no varejo continuar no mesmo patamar, o varejista não vai baixar o preço, mesmo se a arroba cair”, reforça.
“Possivelmente, a gente vai ver uma carne mais estável e baixa, mas não será imediato porque o varejo segura os preços. Saberemos mesmo entre setembro e outubro”, afirma Lygia.
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