Mapeamento inédito vai revelar raio-x das pastagens em SC







Fernanda Toigo
Foto: Epagri
Com Cinthia Andruchak Freitas – Jornalista Epagri


A conservação dos campos nativos do Planalto Sul de Santa Catarina entra em nova fase com o lançamento de um projeto inédito da Epagri/Ciram, que promete revolucionar o entendimento sobre o uso das pastagens na região. A iniciativa, com entrega prevista para 2026, pretende mapear e classificar aproximadamente 16 mil km² de áreas campestres, utilizando tecnologias de ponta como imagens de satélite de alta resolução (CBERS-04A), drones e algoritmos de aprendizado de máquina.

O projeto tem como objetivo identificar com precisão três tipos de pastagens – nativas, melhoradas e cultivadas – e atualizar o levantamento feito em 2017/18 durante o projeto de Indicação Geográfica do Queijo Artesanal Serrano. “Agora, com imagens mais avançadas, podemos refinar esses dados e trazer nova luz à conservação desse ecossistema”, destaca Kleber Trabaquini, pesquisador e coordenador da iniciativa.



Campos nativos: ecossistemas ameaçados e pouco valorizados

Formações vegetais campestres que somam cerca de 43 mil anos de evolução, os campos nativos são comuns nas serras catarinenses e no Cone Sul da América do Sul. Eles desempenham papel essencial no equilíbrio ambiental, atuando na retenção de carbono, infiltração de água no solo e abastecimento das nascentes dos rios e aquíferos como o Guarani.

Apesar disso, projeções indicam que até 87% dessas áreas podem desaparecer até 2036 se não forem adotadas medidas de proteção e uso sustentável. “A sociedade já compreendeu a importância de preservar florestas. Agora é urgente ampliar essa percepção para os campos nativos”, alerta a pesquisadora Juliana Mio, da Epagri/Ciram.
Base da pecuária e da identidade agro regional

Além dos serviços ambientais, os campos nativos sustentam a pecuária tradicional no Planalto Sul Catarinense. Dados do Censo Agropecuário indicam que 84% das propriedades rurais da região têm até 100 hectares, e dependem dessas pastagens para alimentar seus rebanhos de corte e leite.

“A pecuária baseada em campo nativo não apenas respeita o ambiente como mantém os valores culturais de nossos antepassados. É possível obter produtividade com sustentabilidade”, afirma o pesquisador Cassiano Eduardo Pinto, da Estação Experimental de Lages.

O projeto também será fundamental para aprimorar iniciativas como a Pecuária ConSCiente Carbono Zero, lançada em 2022, que busca estratégias para mitigar a emissão de gases de efeito estufa por meio da pecuária sustentável. A alimentação dos animais à base de pasto aparece como chave para transformar o setor em um modelo de emissão neutra ou até positiva de carbono, reforçando o papel de Santa Catarina como referência nacional.

Parcerias científicas e validação dos dados

A validação das imagens será feita em campo com coleta e análise de biomassa em laboratório. O projeto conta com o apoio de instituições como o MAPA, o Banco Mundial (SC Rural II), a Fapesc e o Laboratório LAPIG da UFG, que atua na integração entre ciência de dados, observação in loco e inteligência territorial.
Contribuições para o futuro

Depois de concluído, o mapeamento vai servir como piloto para expandir o levantamento ao restante do Estado e alimentar bases nacionais como o Atlas das Pastagens e o MapBiomas. A expectativa é que as informações geradas sirvam de referência para políticas públicas voltadas à agricultura de baixo carbono, ordenamento territorial rural e preservação ambiental.


Comentários