Fernanda Toigo
Foto: CNA
Com Assessoria de Comunicação CNA
O gargalo na logística no Brasil começa quando não se consegue acompanhar o crescimento do agro brasileiro, afirmou a assessora técnica da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Elisangela Pereira Lopes, na série de debates ‘Logística no Brasil’, promovido pelo jornal Valor Econômico, na quarta (9), em Brasília.
Elisangela participou do painel “Superando os gargalos: investimentos e soluções para a infraestrutura nacional” ao lado de representantes do setor público e privado.
“De 15 anos para cá, só de soja e milho a produção cresceu 155 milhões de toneladas, isso representa 10 milhões de toneladas por ano e a infraestrutura não tem acompanhado esse crescimento, infelizmente,” ressaltou a técnica.
Segundo ela, essa análise vem principalmente da produção nas novas fronteiras agrícolas, como o Matopiba (região que reúne os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) e o Mato Grosso, considerado o maior produtor de grãos do país.
“Esses estados estão respondendo por 68% de toda a produção do Brasil, mas quando se fala em escoar isso pelos portos do Arco Norte, é possível exportar somente 35% de toda essa produção. E o principal gargalo está nos caminhos que levam essa produção das fazendas aos portos”, acrescentou.
Na avaliação de Elisangela, o agro precisa de ferrovias, rios navegáveis e estradas de qualidade, principalmente as vicinais, que de acordo com ela, na maioria das vezes, não são consideradas nos planos de governo.
Armazenagem – A assessora técnica da CNA também destacou os problemas do setor com a armazenagem. “Hoje, 63% de tudo que se produz, tem espaço para guardar, o restante não. Isso é um gargalo grande. Quando a gente fala de Mato Grosso, só consegue-se armazenar 49,9%. Ou seja, nem a metade da produção no Estado e isso incorre em custos logísticos altíssimos, porque a logística não é só o transporte, é produzir e entregar no tempo, com qualidade e com custo de transporte reduzido”.
A assessora explicou que sem armazenagem não é possível alcançar esses parâmetros porque o escoamento é feito no pico da safra. “Esse ano, por exemplo, demorou-se um pouco para escoar a produção de grãos e os custos com frete, só no Mato Grosso, aumentaram 60% em relação ao ano anterior. A logística precisa correr atrás do agro para oferecer uma infraestrutura adequada.”
Como solucionar os gargalos – Durante o debate, os painelistas falaram sobre a elaboração de planos de Estado para melhorar o setor de infraestrutura e logística para os próximos 5 a 10 anos. Elisangela afirmou que a CNA concorda com a iniciativa e vê como “boa notícia” para o agro. “É o que o produtor precisa para continuar fazendo o dever de casa.”
Ela citou a relação estreita da CNA com os órgãos responsáveis pela promoção dessas melhorias e reforçou que a Confederação conhece a fundo os problemas e que pode contribuir em relação ao que precisa ser feito, como a conclusão do trecho da BR 163 que conecta Miritituba até Santarém (PA) e a Ferrogrão.
“Se em Mato Grosso a expectativa é que em 2034 a produção chegue a 144 milhões de toneladas, 54 milhões a mais do que está sendo produzido hoje, como é que isso não pode viabilizar a Ferrogrão que vai ser construída na mesma área de influência e faixa de domínio da BR 163?”, questionou.
A assessora da CNA lembrou que 10 anos na área de infraestrutura é o tempo que se leva para se obter o licenciamento ambiental de uma obra e citou a liberação recente do licenciamento para o derrocamento do Pedral do Lourenço, no Rio Tocantins, que vai facilitar o transporte de cargas via embarcações.
“Já são 11 anos desde o leilão, que custava R$ 560 milhões e passou para R$ 1,1 bilhão devido à morosidade. E recebi a notícia recente de que o Ministério Público está tentando suspender o Pedral do Lourenço onde o agro tem carga para escoar pelo menos 20 milhões de toneladas a um custo de 30 a 40% menor em relação ao modo rodoviário. Seria uma redução significativa nos custos com frete.”
Elisangela trouxe ainda dados da pesquisa de armazenagem da CNA, que ouviu 1065 produtores sobre os problemas que enfrentam na questão. Segundo ela, os produtores ouvidos afirmaram que apenas 61% da produção é armazenada dentro da propriedade, o que os tornam dependentes de armazéns de terceiros.
Para organizar essa logística, Elisangela afirmou que o produtor precisa de linha de crédito atrativa, com taxa de juros melhor, prazo de carência e financiamento maior e instalação de armazéns nas propriedades rurais.
“Nos EUA, de tudo que se produz, 54% são armazenados na fazenda. Mas no Brasil, no pico da safra, os caminhões viram armazéns sobre rodas e isso vira prejuízo e ineficiência muito grande para o produtor e para a sociedade porque a ineficiência gera perdas na economia”, finalizou.
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