O milho congelou, a horta “queimou”, mas tem planta que curtiu a friaca






Fernanda Toigo
Foto: Arthur Vítor


Com a chegada de uma frente fria intensa ao Sul do país, agricultores enfrentam os efeitos das baixas temperaturas sobre suas lavouras. Em especial, produtores de milho em final de ciclo e de hortaliças registraram impactos negativos com a ocorrência de geadas.

Em Cascavel, no Oeste do Paraná, o produtor João Nazari, ao percorre a lavoura, encontrou as espigas de milho congeladas. “A colheita acontece em 20 dias e a geada trouxe certo dano”, observa o agricultor em um diagnóstico preliminar.


Entretanto, para as culturas típicas do inverno, como trigo, aveia, cevada e até mesmo a oliveira, o frio é bem-vindo e considerado essencial para o bom desenvolvimento das plantas.

De acordo com o agrometeorologista professor Reginaldo, a frente fria que atingiu o Paraná e outras regiões acima do estado foi resultado de uma massa de ar frio de forte intensidade. “O sol está mais distante do nosso hemisfério nesta época, e isso facilita a chegada de frentes frias sem grandes barreiras naturais”, explicou.



Havia expectativa de ocorrência de geada negra em alguns locais. Diferente da geada branca, que se forma geralmente à noite, a geada negra pode ocorrer a qualquer hora do dia e é ainda mais severa. “Ela ocorre quando temos uma massa de ar muito fria, com temperaturas abaixo de zero, baixa umidade relativa e presença de vento. Isso causa danos profundos nas plantas, matando células e deixando folhas com aspecto necrosado”, detalhou o professor.

Nas hortas, especialmente as de pequenas propriedades, a geada causou prejuízos pontuais, apesar da preparação por parte dos agricultores. “Hoje em dia, os produtores de hortaliças estão mais atentos às previsões e, com ajuda da comunicação, conseguem se precaver. Mesmo assim, há perdas, e isso pode acabar refletindo no bolso do consumidor com aumento no preço das verduras”, alertou.

Por outro lado, as lavouras de inverno, como o trigo, se beneficiam dessas baixas temperaturas. “Essas culturas precisam acumular frio para expressar todo seu potencial produtivo. A geada, nesse caso, não é um problema, é uma necessidade”, observou Reginaldo. Segundo ele, a presença de frio consistente também favorece outras culturas como aveia, centeio, cevada e até hortaliças de clima frio, como a couve-flor.

Além da agricultura, o frio também movimenta outros setores da economia, como o comércio de roupas e aquecedores. “É um momento que nos une, que nos faz querer ficar mais próximos. E mesmo para quem sofre com o frio, é importante lembrar que esse clima também tem seu papel e seus benefícios”, acrescentou o especialista.

Com a tendência de um inverno mais típico e a transição para o fenômeno La Niña, a previsão é de que novas ondas de frio ainda possam ocorrer nas próximas semanas, especialmente em julho. “Estamos diante de um ano de clima mais normal. Devemos esperar mais frentes frias e temperaturas baixas até a segunda metade do inverno”, finalizou o professor.

Enquanto os termômetros seguem em queda, produtores seguem atentos, e a população é lembrada de redobrar os cuidados com os mais vulneráveis, especialmente aqueles em situação de rua, reforçando a importância da solidariedade em tempos frios.

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